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terça-feira, 13 de julho de 2010

MINI-CONTOS do amigo Marcelo Ribeiro

CONTO UMA

Infeliz. Até a chegada de Severo. Atrevido que só. Seguiu-a dizendo coisas absurdas, imundas, que não se diz a uma vagabunda. E que nunca ouvira, é bom que se frise. Quase. Ouvira, sim, mas sem dar trela. Não ouvira, pois. Telefonou, mandou flores, fez misérias. Resistiu a não mais poder, Deus é testemunha. Feitiço. Entregou os pontos. Desejou a morte. Por chumbinho. Desesperada, abriu-se com o marido, um brutamontes.

Passou a encontrar-se com o amante às claras, permissão de Luiz. Severo desconfiado, no início. Mas se foi chegando: aniversário de Júnior, Natal, festa da cumeeira, por ocasião da reforma da casa, providencial ajuda de Severo, justiça seja feita. Parte da família, já.

Saciada, satisfeita, aguardava Luiz à porta, jantar à luz de velas, TV no colo do maridão, pipoca nas bocas, todas as vontades, toma lá, dá cá. Pessoa boa, compreensiva.  Até o Júnior, rebelde, criou tino, aparou os cabelos, agora no Tribunal de Justiça. Concursado. Um pouco no "chumbrego", mas concurso, quem há de dizere que não? Andou o moleque falando, até, em pós-graduação.

Quando Luzia telefonou exigindo que deixasse Severo em paz, um desmantelo. Mas Luiz a tranquilizou: deixasse tudo por sua conta. Nada no mundo o faria deixar escapar a felicidade que batera à porta da família.

E assim se deu. Quem viveu, viu. Luzia, não.

  
 CONTO DUAS

Mulherengo, rampeiro mesmo, uma doença. Ruim de cama de dar dó. Sem afeto, sem carinho, coisa de bicho. Sexo. Tão-somente. Animal. Um porco; galo, melhor dizendo. Arte é fazer bem. Surpresa não foi, ir embora. Enrabichado por menina nova. Idade de neta. Que sabe sugar, claro. O que tem e o que não tem, mas passa que tem. Haja ponta, dizem. Ele todo prosa, rei da cocada preta, o traste.

Não, não quer saber mais de ninguém, chega de homem. Todos iguais, uma ruindade só. Melhor ficar sozinha, bastar-se a si mesma, descobriu em noites de açoite. Possante: não sabe o imbecil a fêmea que perdeu. Como não se viu, garante. Inté hoje, como se diz na terra dela, Macambira, interior de Sergipe, no olho do cu do Nordeste.

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