Páginas

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Bullying: um problema comum nas escolas

Bullying: um problema comum nas escolas
Pais e professores devem ficar atentos às atitudes agressivas de crianças e adolescentes, um problema habitual nas escolas, mas ainda pouco discutido
10/07/2009 - 07:12

Agressões físicas e psicológicas caracterizam o bullying


“Era angustiante deixá-lo de manhã no colégio sabendo que podia ser mais um dia de sofrimento para ele”, desabafa Fátima (nome fictício), mãe de um menino de 11 anos que, há poucos meses, sofria com as atitudes agressivas de um colega na escola.





Todos os dias, na hora do intervalo, o filho de Fátima era surpreendido com empurrões e xingamentos do colega, que, não satisfeito com a implicação, ainda escondia os objetos escolares do garoto e repetia as mesmas atitudes no reforço escolar que os dois frequentavam no período da tarde. “Assim que ouvi do meu filho o que estava acontecendo, procurei a coordenação do colégio e pedi uma providência. Soube que a mãe do outro jovem foi chamada pela escola para uma conversa, e acredito que isso tenha amenizado a situação. Só vou ter certeza que o problema acabou quando as aulas recomeçarem”, acredita Fátima.



A criança era vítima de bullying (ameaça, em inglês), uma prática muito comum nas escolas, onde um aluno ou um grupo demonstra atitudes agressivas, repetitivas, e sem razão, contra um colega ou grupo de colegas. Os tipos de agressão vão desde insultos até o isolamento social da vítima, passando por ataques físicos, fofocas e chantagens. Tudo com o objetivo de intimidar e humilhar o outro jovem.

Sinais

Segundo Fátima, não foi fácil perceber que seu filho vinha sendo intimidado pelo colega. “Demorei alguns meses para descobrir o problema. Havia dias em que ele chegava em casa com o material escolar incompleto, e não sabia me explicar onde havia deixado. Algumas vezes notei marcas vermelhas em seu corpo. Ele também foi perdendo a vontade aos poucos de frequentar a escola e a banca”, relata a mãe.

Assim como ela, a maioria dos pais não nota o problema imediatamente, isso porque a criança não costuma procurar os responsáveis para falar sobre o assunto. “O jovem tem vergonha. Se sente inferior e não quer assumir essa inferioridade diante dos pais. Além disso, ele teme que os adultos não acreditem nele”, diz a psicopedagoga Edel Ferreira.

Não querer ir para a escola, chegar machucada em casa, se negar a comer, evitar contatos sociais, e ficar muito tempo trancada no quarto podem ser sinais de que a criança vem sofrendo o bullying. Mas a especialista ressalta que esses também podem ser indícios de outros problemas, por isso é necessário identificar o que de fato está acontecendo.

Causas

Mídia e ambiente familiar influenciam a conduta da criança, diz especialista
Alguns motivos podem levar um jovem a assumir uma postura agressiva diante dos colegas, segundo a psicopedagoga. “A mídia exerce muita influência sobre os jovens, e eles acabam repetindo situações que encontram na televisão e na internet. Os adultos também são modelos para as crianças e os adolescentes. Se o jovem vive em um ambiente onde não há respeito, ele acaba reproduzindo na escola o que vê em casa”, explica a especialista.

Ainda segundo ela, as vítimas são geralmente os mais tímidos da turma. “Aqueles que mostram maior fragilidade e que recuam ao invés de reagir às agressão são os mais suscetíveis ao bullying”, diz Edel.

Traumas

De acordo com a especialista, “o bullying pode trazer transtornos para quem pratica e para quem sofre, se não houver o posicionamento adequado dos pais e das escolas e o acompanhamento psicológico necessário”. Ela explica que as vítimas podem desenvolver baixa auto-estima e virar adultos extremamente tímidos e reclusos. Já os agressores, podem continuar praticando o bullying na fase adulta, inclusive no ambiente de trabalho. “O assédio sexual no trabalho, por exemplo, pode ser reflexo do comportamento do indivíduo na infância”, destaca.

Papel da escola

Para a professora, acompanhamento das escolas ainda não é o adequado
Apesar de reconhecerem a existência do bullying, muitos professores e diretores de escolas públicas e privadas ainda têm dificuldade em lidar com o problema. A falta de tempo e a grande quantidade de estudantes nas salas de aula não permitem que esses profissionais façam um acompanhamento individual de cada aluno. “É preciso que o professor fique mais atento. Às vezes não tem problema chegar um pouco mais tarde na aula para passar o intervalo conversando com a criança”, acredita a professora da rede estadual, Edilde Menezes.

Para ela, cada escola deveria contar com uma equipe de psicopedagogos que pudesse atuar junto aos estudantes. “Algumas instituições privadas já contam com esses profissionais, mas na rede pública, infelizmente, esse acompanhamento ainda não é o adequado. Diretores e coordenadores muitas vezes não se mostram preparados para agir nesses casos”, lamenta.