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quinta-feira, 28 de maio de 2009

PENTÁCULO DO MEDO

Quando eu era um dos membros do Conselho Estadual de Cultura, fui designado relator do Processo n.006/78-CEC.

Interessado: Poeta SANTO SOUZA
Assunto: Submete à apreciação dos CONSELHOS ESTADUAL DE CULTURA sua obra poética “PENTÁCULO DO MEDO” para o fim de edições com o aval com o aval do Governo do Estado.
Que grandeza!
Quanta humildade!
Um homem da envergadura intelectual de SANTO SOUZA, humildemente se submetia a julgamento.
Um nome nacional, carregando sobre a cabeça os loiros de notáveis vitórias, ali, estava, representado pelo seu livro, tranquilamente, perguntando se merecia comemorar os seus vinte e cinco anos de poesia, lançando mais uma de suas grandes obras.
Que exemplo para a juventude!
Com os ombros cheios de estrelas e o peito reluzente das mais importantes condecorações - nenhuma por bom comportamento - parecia não perceber que estava nos dando uma lição de extrema dignidade e altivez.
Em meio a estes pensamentos, sou fuzilado pela voz do Presidente Antônio Garcia Filho para ser o Relator do Processo:
“Designo o Conselheiro Clodoaldo de Alencar Filho para ser o Relator do Processo”.

Mal consegui começar a abrir a boca... Ia gritar - “NÃO”!
A voz do Presidente ressoou na sala:
“Designação aprovada por unanimidade”.

Ele sabia de designação não precisava de votação e, conseqüentemente de aprovação e, muito menos, por unanimidade. Ás vezes tenho a impressão que ele, poeta e médico, percebeu que meu universo tinha sido abalado. Notou, certamente, que eu ia entra em pane ou pânico. E contra-atacou com a tal designação: “designação aprovada por unanimidade” Acedi com um "aceito" de quem vai casar de” livre e espontânea", na base do” Sim, Senhor... "Seu” Delegado” Terminou a sessão. Botei o Processo embaixo do braço e sai...

Pela madrugada, após terrível insônia, me veio

“O SENHOR É MEU PASTOR
E NADA ME FALTARÁ. "

Pela manhã, cedinho, tomei coragem e comecei a ler “PENTÁCULO DO MEDO”,
Dias depois, com misto de nervosismo e orgulho, bebi um gole d água, temperei a garganta, e li meu Parecer para os ilustres confrades do CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA que, graças a Deus, aprovaram-no por unanimidade. Ei-lo:

O antropólogo norte-americano Loren Eiseley contou uma história fantástica.
A tal história foi utilizada pelos escritores Louis Pawels e Jacques Bergier no seu famoso livro “O DESPERTAR DOS MÁGICOS”.

Transcrevo-a:

"Descobrir outro mundo, diz, ele, não é apenas um fato imaginário. Pode acontecer aos homens. Aos animais também. Por vezes, as fronteiras resvalam ou intermeteram: basta estar presente nesse momento. Vi o fato acontecer a um corvo. Esse corvo é meu vizinho: nunca lhe fiz mal algum, mas ele tem o cuidado de se conservar no cimo das árvores, de voar alto e de evitar a humanidade. O seu mundo principia ou minha vista acaba. Ora, uma manhã, os nossos campos estavam mergulhados num nevoeiro extraordinariamente espesso, e eu me dirigia, às apalpadelas, para a estação.
Bruscamente, à alturada dos meus olhos, surgiram duas asas negras, imensas, precedidas por um bico gigantesco, e tudo isso passou como um raio, soltando um grito de terror tal, que eu faço votos para que nunca mais ouça coisa semelhante. Esse grito perseguiu-me durante toda à tarde. Cheguei a consultar o espelho, perguntando a mim próprio o que teria eu de tão revoltante...
Acabei por perceber. A fronteira entre os nossos dois mundos resvalara, devido ao nevoeiro. Aquele corvo, que supunha voar à altitude habitual, vira, de súbito, um espetaculoso, contrário, para ele, às leis da natureza. Vira um homem caminhar no espaço, bem no centro do mundo dos corvos. Deparara com a manifestação de estranheza mais completa que um crivo pode conceber: um homem voador...
Agora, quando me vê, lá do alto, solta pequenos gritos, e reconheço, nesses gritos a incerteza de um espírito cujo universo foi abalado. “Já não é nunca mais será como os outros corvos...”

Quando terminei de ler 'PENTÁCULO DO MEDO”, fiquei parado.
Não conseguia pensar.
Depois, pensei muito. Foi pior. Tantos pensamentos... Por qual deles começar?
Diante de mim, também a imagem horrível do REGIMENTO INTERNO com seus prazos.
“PENTÁCULO DO MEDO" é uma obra muito densa. Faz-se necessário um tempo para ser digerido

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